Sinopse
“Francisca, uma bela mulher, ex-funcionária da Comissão Europeia, vê-se perante uma vida que não era a que tinha imaginado. O seu único filho partiu em busca de outras realidades e Francisca resolve agarrar uma oportunidade de mudança e embarca no veleiro “À Flor do Mar”.
Os desafios da viagem começam com o resto da tripulação - Pedro, dono do veleiro é um fascinante traficante de arte sacra, Toni um skipper charmant, Lili uma artista de cabaret e Malik é um jovem clandestino africano.
Entre cumplicidades e conflitos a bordo, o espaço torna-se cada vez mais exíguo mas o veleiro vai seguindo a rota dos descobridores Portugueses do séc. XVI. Em alto mar, ocorre a maior traição…
NOTA DA REALIZADORA
“Mar” reflecte o mundo de hoje. Um mundo em que a Europa se encontra à deriva.
O filme percorre uma viagem, a grande Odisseia mítica dos Portugueses do séc. XVI refeita por Francisca, uma mulher do nosso tempo, que atravessa o mar à procura do filho, à procura de si. Nenhum saudosismo de antigas grandezas, antes a visão de um mundo igualmente em mudança.
A travessia do veleiro À Flor do Mar é permanentemente assombrada pelo embate entre uma Europa distante e o restante mundo, que nela quer entrar. É o símbolo de uma Europa que não sabe o que fazer com os migrantes clandestinos que arriscam a vida, morrendo aos milhares no mar. É o encontro com uma Europa do Sul, outrora terra de conquistadores, agora território continuamente espoliado das suas riquezas, nas mais diversas e subtis formas, com os seus habitantes em permanente perda. No filme, reflectem-se os dois lados da aventura: o glamoroso e romântico imaginário das aventuras marítimas, mas também o lado negro e subterrâneo do ganho ilícito de todo o tipo de tráfego. A viagem atribulada é um embate de personagens que se debatem com as questões de sempre: o amor, o ciúme, a ética, o sexo, a inveja, a competição, a vontade de poder, reflectindo a Humanidade em todas as suas contradições.
No mar perde-se a noção do tempo e do espaço, entra-se na magia das horas passadas entre o céu e o mar, assaltadas de extraordinários perigos e peripécias. A viagem no mar é também uma viagem interior. É o encontro com as cores, a luz sempre mutante ao longo dos dias e noites; o bulício cheio de sons, as várias línguas e falas, a riqueza sonora que reforça a actualidade do filme. David, o filho que escapa a esta mãe, como a quimera à realidade, nunca aparece no filme. O seu caminho de procura afastou-o do mundo, mergulhando-o numa espécie de restante vida, errância permanente. Embora ausente, a busca de David reflecte-se em Francisca. Ao assumir o comando do barco quando tudo parece perdido, Francisca compreende que conquistou uma segunda oportunidade.
O ritual da Paixão, a Ressurreição, que a espera na ilha Flores, na distante Malásia (onde o seu filho poderia estar), é para si também um recomeço. À Flor do Mar, o nome do veleiro, é uma óbvia homenagem a João César Monteiro, mas também o nome de um galeão português (Flôr de La Mar) que trazia especiarias do Oriente para Portugal no séc. XVI.
Este universo iminentemente masculino que é o do mar, em que se repetem manobras e gestos de tantas viagens marítimas - os mesmos dos marinheiros portugueses de há 500 anos - será visto pelos olhos de uma mulher realizadora, fundado na experiencia de outra mulher (a co-argumentista, velejadora e descendente de navegadores gregos). Tirou-se partido do exíguo espaço interior do barco (que condiciona a forma de filmar), aproximando a câmara dos actores, tornando muito físico o contacto entre o público/ audiência e o corpo do filme. Em todos os meus filmes existe um percurso de uma protagonista em busca, e uma estrutura narrativa baseada na cena, por vezes procurando fluidez no plano-sequência.
O mundo actual está num dos momentos mais agudos da sua História. As recentes migrações e o drama dos refugiados, em fuga por todo o mundo, sobretudo para o norte da Europa, atravessando o Mediterrâneo, são um eixo fundamental do filme. Esta questão diz respeito a todos, não só à Europa. Portugal, apesar do imaginário mítico de um país de marinheiros, virou as costas ao mar. Mas teve e tem, pela sua circunstância e história, e pela sua continuada diáspora, especial papel neste momento.
Na sua saga marítima, Portugal viveu um terrível fenómeno de expatriação e despovoamento, a outra face da expansão. Espantaria se não tomássemos voz própria neste trágico assunto e nesta Europa à deriva, com o que Eduardo Lourenço chamou de "uma reserva de sonho", exprimindo uma posição que compense em Arte o que em força política não lhe sobra.
É no domínio simbólico que aquilo que não se ganha na batalha se ganha na consciência dos valores e se inscreve na História.
Trailer
Imagens
Maria Margarida Gil Lopes nasceu na Covilhã a 7 de Setembro 1950. Cineasta portuguesa, licenciada em Filologia Germânica pela Faculdade de letras de Lisboa, Professora Assistente aposentada da Universidade Nova de lisboa. Os seus filmes têm sido premiados e estreado nos mais prestigiados festivais de cinema, tais como: Veneza, Locarno, Roma, Mostra de São Paulo, Nova Iorque, Sevilha, Doclisboa, IndieLisboa, Fantasporto, Figueira da Foz, Santa Maria da Feira, entre outros. Em 2005 foi-lhe atribuído o prémio Carreira pelo Roma International Film Festival. Presidente da direcção da APR (Associação Portuguesa de Realizadores) desde 2009 até 2016, de que é actualmente presidente da mesa da assembleia. Foi casada com João César Monteiro, tendo trabalhado junto deste como actriz e assistente de realização.
REALIZOU AS LONGAS-METRAGENS DE FICÇÃO PARA CINEMA:
2016 – "A QUE CHAMAS PENSAR"
Documentário encomendado pela Fundação Calouste Gulbenkian. Produção: Alexandre Oliveira (ar de filmes), Direcção de Fotografia: Acácio de Almeida, Direcção de Som: Francisco Veloso; Montagem: João Braz
2012 – “O FANTASMA DO NOVAIS”
Longa-metragem - Rome International Film Festival 2012, IT; 37a Mostra de Cinema de São Paulo, BR; Festival de Cinema Europeu de Sevilha 2013, ES; 16o Festival Luso- Brasileiro de Santa Maria da Feira; Exibição na Cinemateca Portuguesa- Museu do Cinema; Estreia no Teatro São Mamede de Guimarães; Produção Ambar Filmes para Guimarães Capital Europeia da Cultura 2012.
2012 – “A ESQUINA DO TEMPO”
Curta-metragem Produção Ambar Filmes para o Ministério da Educação e a Organização dos Estados Ibero- Americanos.
2011 – “PAIXÃO”
Longa-metragem - Exibição Medeia Filmes e Canais Tv Cine; Produção CLAP Filmes.
2009 - “FÁTIMA DE A A Z”
Documentário sobre a escritora Maria Velho da Costa; Exibição na RTP e Casa Fernando Pessoa; Produção Ambar Filmes.
2009 – “PERDIDA MENTE”
Longa-metragem, Prémio de Melhor Guião de Ficção Estrangeiro no New York International Independent Film & Video Festival, EUA (festival dirigido por Abel Ferrara); Produção Ambar Filmes.
2008 - “SOBRE O LADO ESQUERDO”
Documentário sobre o universo do escritor Carlos de Oliveira; co-autoria de Manuel Gusmão; Festival DocLisboa 2007, Rome International Film Festival, IT; Festival de Leeds, UK; Exibição RTP; Produção Ambar Filmes; Edição DVD Midas Filmes/FNAC. Mostra de Vigo de Cinema Português.2007 - “LUZLINAR E O LOUVA-A-DEUS”
Documentário sobre a escultora Maria Lino; Produção Ambar Filmes.
2005 - “ADRIANA”
Longa-metragem com Estreia Mundial no Rome International Film Festival; Prémio para o Melhor Filme Português no Festival Indie Lisboa; Prémio Especial do Júri no Festival Luso- Brasileiro de Santa Maria da da Feira; Globo de Ouro para Melhor Actriz de Cinema 2006 (Ana Moreira); Estreia comercial no Cinema King; Distribuição Atalanta Filmes.
2004 - "NÃO ME CORTES O CABELO QUE MEU PAI ME PENTEOU"
Curta- metragem com Exibição na Cinemateca Portuguesa - Museu do Cinema; Produção Take 2000; Edição em DVD , colecção FNAC.
1999 - "O ANJO DA GUARDA"
Longa-metragem - 1o Prémio no Rome International Film Festival 1999, IT; 1o Prémio dos Encontros de Roubaix-Tourcoing (anfitrião recorrente das obras de Straub-Huillet), FR; Prémios nos Festivais da Figueira da Foz, Fantasporto, Santa Maria da Feira e Covilhã; Estreia comercial no Cinema Nimas; Produção AS Produções; Distribuição Atalanta Filmes. Exibido em Junho de 2016 no Ciclo da Freier Universitat de Berlim.1996 – “AS ESCOLHIDAS”
Documentário sobre a pintora Graça Morais; Exibição na RTP; Produção AS Produções.1994 - "LUZ INCERTA"
Documentário - Produção Rosa Filmes - Lisboa Capital Europeia da Cultura 1994.1992 - "ROSA NEGRA"
Longa-metragem - Competição Oficial do Festival de Locarno 1992, CH; Exibição na Cinemateca Portuguesa – Museu do Cinema; Cineclube de Évora; Ciclo de Cinema Português “Filmes Proibidos” 2013, Fundão; Exibição na RTP; Produção Filmes do Príncipe Real.
1987 - "RELAÇÃO FIEL E VERDADEIRA"
Longa-metragem, Festival de Veneza 1987, IT; Estreia comercial em Cinema São Jorge; Exibições na Cinemateca Portuguesa – Museu do Cinema; Distribuição Lusomundo.Trabalha há mais de 20 anos em cinema, inicialmente como diretor de produção e atualmente como produtor da Ar de Filmes. Integrou também o Departamento de Programação da Cinemateca Portuguesa.
Estes são alguns exemplos do seu trabalho em cinema:
COMO PRODUTOR
2019 (em rodagem) | O ANO DA MORTE DE RICARDO REIS
Realizador: João Botelho
Produção: Ar de Filmes
2017 | PEREGRINAÇÃO
Realizador: João Botelho
Produção: Ar de Filmes
2016 – "A QUE CHAMAS PENSAR"
Realizador: Margarida Gil
Produção: Ar de Filmes
2016 | O CINEMA, MANOEL DE OLIVEIRA E EU
Realizador: João Botelho
Produção: Ar de Filmes
2015 | Nos Campos em Volta (doc; curta)
Co-produção com o Museu de Arqueologia de Serpa
Realizador: João Botelho
Produção: Ar de Filmes
2015 | O Som da Prata (doc; curta)
Encomenda no âmbito da celebração dos 140 anos da Topázio
Realizador: João Botelho
Produção: Ar de Filmes
2014 | A Arte da Luz tem 20.000 Anos (doc)
Documentário em digital, encomenda do Museu do Côa
Realizador: João Botelho
Produção: Ar de Filmes
2014 | Os Maias
Realizador: João Botelho
Produção: Ar de Filmes
2012 | O Bravo Som dos Tambores (doc)
Realizador: João Botelho
Produção: Ar de Filmes
2012 | La Valse (curta)
Realizador: João Botelho
Produção: Ar de Filmes
2012 | Anquanto la Lhéngua fur Cantada (doc)
Realizador: João Botelho
Produção: Ar de Filmes
2010 | Filme do Desassossego
Realizador: João Botelho
Produção: Ar de Filmes
2010 | Oh Lisboa, Meu Lar (doc)
Realizador: João Botelho
Produção: Ar de Filmes
2009 | Para que este Mundo não Acabe! (doc)
Realizador: João Botelho
Produção: Ar de Filmes
2008 | A Corte do Norte
Realizador: João Botelho
Produção: Filmes de Fundo
2007 | A Terra antes do Céu (doc)
Realizador: João Botelho
Produção: Ar de Filmes
2007 | A Baleia Branca – uma Ideia de Deus (doc)
Realizador: João Botelho
Produção: Ar de Filmes
2005 | Nunca Estou Onde Pensas que Estou (curta)
Realizador: Jorge Cramez
Produção: Ar de Filmes
2002 | Venus Velvet
Realizador: Jorge Cramez
Produção: Filmes do Tejo
COMO PRODUTOR EXECUTIVO
2002 | O Gotejar da Luz
Realizador: Fernando Vendrell
Produção: Cinemate
2001 | Água e Sal
Realizador: Teresa Villaverde
Produção: Madragoa Filmes
COMO DIRETOR DE PRODUÇÃO
2007 | O Mistério da Estrada de Sintra
Realizador: Jorge Paixão da Costa
Produção: Filmes do Fundo
2003 | Quaresma
Realizador: José Álvaro Morais
Produção: Madragoa Filmes
2003 | A Mulher que Acreditava ser Presidente dos Estados Unidos da América
Realizador: João Botelho
Produção: Madragoa Filmes
2002 | O Delfim
Realizador: Fernando Lopes
Produção: Madragoa Filmes
2002 | Deux
Realizador: Werner Schroeter
Produção: Madragoa Filmes
2002 | Memórias Póstumas
Realizador: André Klotzel
Produção: Cinemate
2001 | A Hora da Morte
Realizador: José Nascimento
Produção: Clap Filmes
2000 | Branca de Neve
Realizador: João César Monteiro
Produção: Madragoa Filmes
1999 | Abendland
Realizador: Fred Kelemen
Produção: Filmes do Tejo
1999 | El Perro del Hortelano
Realizador: Pilar Miró
Produção: Animatógrafo
Elenco
MARIA DE MEDEIROS
Francisca, ex-funcionária da comissão europeia, que depois de perder o rasto ao seu único filho, agarra uma oportunidade de mudança e embarca no veleiro “À Flor do Mar”.
PEDRO CABRITA REIS
Pedro, o carismático dono do “À Flor do Mar”, um fascinante traficante de alto coturno cheio de contradições.
CATARINA WALLENSTEIN
Lili, uma deliciosa artista de cabaret originária de Braga.
NUNO LOPES
Toni, o atlético skipper, um homem de acção, vaidoso, fanfarrão.
AUGUSTO AMADO
Malick, um jovem clandestino africano.
E ainda:
CASSIANO CARNEIRO
Kostas
JOSÈ NASCIMENTO
Mauritzío
DINIZ GOMES
Sr. João
PORQUÊ ESTES ACTORES?
Penso um pouco.
E chego à conclusão óbvia: só podiam ser eles
Procuro uma palavra para cada um:
Maria - inteligência
Pedro- grandeza
Nuno- densidade
Catarina-luz
Junto as palavras e obtenho a intenção submersa no filme.
Os actores são a matéria viva , o sangue que corre no corpo do filme. Todos os dias do processo de construção do filme me senti incrédula com a minha sorte e a ansiedade de ter de os merecer.
Não há nada mais comovente do que ter gente deste calibre, refiro-me ao talento, beleza, generosidade, confiança, embarcando no sonho de uma pessoa.
O meu agradecimento não pode ser dado em palavras.
Ofereço-lhes este filme.
MARGARIDA GIL
Equipa Técnica
RITA BENIS e MARGARIDA GIL
Argumento
JOÃO GIL
Música
MARIO MASINI
Imagem
JOÃO BRAZ
Montagem
FRANCISCO VELOSO
Som
PAULO ABELHO e TIAGO INUIT
Montagem e misturas de som
JOSÉ INÁCIO JR.
Coordenação náutica
PAULO BELÉM
Assistência de realização
ZÉ BRANCO
Decoração
SILVIA GRABOWSKI
Figurinos
NUNO ESTEVES (BLUE)
Caracterização
PEDRO BENTO
Direcção de produção
ALEXANDRE OLIVEIRA
Produtor