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Depois da Revolução
Depois da Revolução
  • Estreia: 18 Abril de 2014
  • Local: Teatro do Bairro
Sinopse

“Depois da Revolução” é um espectáculo de teatro musical que deseja celebrar, através da memória do 25 de Abril de 1974, o impulso revolucionário, festivo, jubiloso e libertador. Os primeiros textos e as primeiras canções evocam, por isso, a instigação à luta contra a exploração, desde os primeiros românticos como Shelley a “guerrilheiros” como José Afonso e José Mário Branco, entre muitos outros. No átrio do teatro ficou o jogo entre The Revolution will not be televised/ The Revolution will be televised, referindo a situação contemporânea do nosso existir-para-a-imagem, a plena apropriação mediática de todo o vivido nos moldes do reality show. Contemporânea, eterna é a escravatura: Hammond, um senador da Geórgia, chamava-lhe “lei da Natureza”, em 1851. Quem hoje pode dizer que o desvalor do trabalho não se encaminha rapidamente para uma forma ínvia de escravatura? Antes a revolta popular, a revolução à francesa. Allons enfants de la patrie…Onde levará ela? Não paira ainda hoje sobre o movimento revolucionário a sombra da guilhotina, que o povo republicano conhecia como “a navalha do Carlitos/ o facalhão do Sansão”? Perante o espectro da guilhotina, que sobe e desce, o que temos nós de algum valor? O sol. É o ouro dos pobres. Pobres, endividados, desvalidos…O medo, escreveu Alexandre O´Neill em 1951, o medo vai ter tudo/ Pernas/Ambulâncias/ E o luxo blindado/ De alguns automóveis/ Vai ter olhos onde ninguém os veja/ Mãozinhas cautelosas/ Enredos quase inocentes/ Ouvidos não só nas paredes/ Mas também no chão/ No tecto/ No murmúrio dos esgotos/ E talvez até (cautela!)/ Ouvidos nos teus ouvidos/ O medo vai ter tudo(…)”. Nem sempre foi assim. Houve um momento da nossa História, um breve momento, em que aquilo que hoje sentimos como fechamento, silenciamento, inevitabilidade, a apagada e vil tristeza (mansa) – um tempo contrário e vivo em que houve abertura, explosão da linguagem e das linguagens, vivência de possibilidades. E assim nos encaminhamos, no espectáculo, para o 25 de Abril de 1974. Vamos às arrecuas, parece que hoje tudo anda para trás…Ouvimos Pinheiro de Azevedo, pouco antes do 25 de Novembro, e o seu hoje clássico É só fumaça!; ouvimos as linguagens do PREC, o colorido verbal do MRPP, o sistema do PC…e são ecos, coisas de outros tempos, que ficam a ser sussurradas por um solitário actor…Outros momentos são evocados: a nacionalização da Banca, a famosa manifestação dos operários da Lisnave em Setembro de 1974, de fato-macaco e capacete, qual exército operário…Tomarão o poder? Mas eis que, ao entrarem na fábrica, se entra também num quadro de ópera chinesa. É a Lição do Menino Chinês, o desgraçado que, atado ao pé da mesa, fabrica todos os nossos bens de consumo. “Serve o estado proletário, não pesa no erário, excede o horário”. Pois, que remédio! É um herói , o menino chinês. Esta reviravolta absurda (como outras no espectáculo) pede que a música tenha um carácter que potencie os aspectos irónicos, cómicos e mesmo grotescos. Daí que, numa mesma canção, se evoquem linguagens musicais tão diferentes como a música clássica chinesa, a música de desenhos animados (citando o famoso Dartacão e o jingle dos Looney Toons) acabando numa evocação dos hinos comunistas (mais russos que chineses).

Todo o espectáculo, do ponto de vista musical, é atravessado por esta mesma ideia. A diversidade de registos, muitas vezes irónicos e paródicos, poderá parecer à primeira vista uma “salada musical”, mas quer afinal mostrar que não há hierarquias definitivas em música e sim muitas possibilidades de expressão dessa energia que se manifesta no canto, na dança, na harmonia coral. Depois da Revolução é uma celebração da energia do trabalho, da força, do peso, da dificuldade, da persistência dos gestos repetidos. É evidente, nas coreografias, a referência a Pina Bausch e ao seu tratamento do movimento e da atitude dos corpos, estes agora ligados à sua Terra e à sua História. Por isso também o espectáculo busca em muitos momentos a música tradicional, sem quaisquer novas “roupagens”, como em Viva o Nosso Patrão d´Hoje, da Beira Baixa, ou Cantiga sem Maneiras, a que se acrescenta uma segunda voz, que ampara e abraça a original, sem lhe fazer sombra. Assim, as canções da nossa memória são refeitas, seja com um novo carácter musical ou uma nova intenção. O nosso tempo precisa de expressar-se de viva voz, de forma pessoal, mesmo que seja a expressão da intemporalidade dos nossos desejos e dos nossos sonhos. Este é um espectáculo em que a música funciona como memória e como inspiração. A música dá-nos força. E enquanto há força, como disse José Afonso numa das suas canções, seremos muitos, seremos alguém. Porque para enfrentar os novos vampiros, o que é preciso é gente, gente com dente, gente que enterre o dente, que fira de unha e dente e mostre o dente potente, ao prepotente."
Luísa Costa Gomes e Luís Bragança Gil

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Ficha Técnica

Criação Artística e Musical: Luís Bragança Gil | Textos e Dramaturgia: Luísa Costa Gomes | Encenação: António Pires; Com: Catarina Wallenstein, Dinis Gomes, Pedro Inês e Solange Santos; Coro: André Pardal, Carina Leitão, Sofia Ramos, Filipe Dias, Inês Melo, Joana Chandelier, Luís Moreira, Marisa Pinto, Pedro Sousa, Rafaela Neves, Sónia Lisboa, Sónia Nunes | Maestro do Coro: Paulo Brandão | Orquestra: Daniel Bernardes (piano), Francisco Brito (contrabaixo), Gonçalo Neto (guitarra), Joel Silva (bateria); Corpo: Paula Careto | Assistente de Encenação: Filipe Jorge Dias | Desenho de Luz: Vasco Letria | Produção Musical: Tiago Inuit | Figurinos: Vera Midões | Assistente de Guarda Roupa: Rebeca Duarte | Desenhos para telas: Joana Villaverde | Construção de Cenário: Gonçalo Pires | Administração Financeira: Ana Bordalo | Coordenação de Produção: Bruno Coelho | Direcção de Produção: Cristina Correia | Produtor: Alexandre Oliveira

Textos e canções: O Avô Cavernoso, José Afonso; CONVERSAS DE RUA: texto Luísa Costa Gomes e “Zibaldone” de Alexandre O´Neill, Eu vi este povo a lutar, José Mário Branco, Henry James Hammond, defesa do esclavagismo; canção tradicional Viva o Nosso patrão de hoje; Percy Bysshe Shelley, Homens de Inglaterra, 1792; Os Vampiros, José Afonso; Ana Hatherly, GENTE COM DENTE, música Luís Bragança Gil; CANÇÃO DA GUILHOTINA: Louis Guillotin, Defesa da Guilhotina, 1792; Ária Frio na Nuca (LCG/LBG) ; Canção dos Despedidos, José Mário Branco/música LBG; Poema pouco original do medo de O´Neill ; SOL, OURO DOS POBRES, ária (LBG/LCG); ÊXODO : Vai a caminho de Marte, poema de David Mourão-Ferreira; SOPA DOS POBRES: Mário Cesariny, Raul Brandão, Ruy Belo, Ruy Cinatti, Alexandre O´Neill, ária L´amour est l´enfant de bohème, da Carmen de Bizet; A vida é feita de pequenos nadas, Sérgio Godinho. Cantiga sem Maneiras, Grupo de Acção Cultural. Desversos de Fernando Assis Pacheco. TRISTEZA MANSA, poema de Ruy Belo, música LBG; Engrenagem de José Mário Branco;, PORTUGUESES PORTUGUESES PORTUGUESES do Cravo de Maria Velho da Costa; fragmentos do PREC, propaganda vária e textos de época, dramaturgia LCG (nacionalização da Banca, Março de 1975, Manifestação dos Operários da Lisnave, Setembro de 1974) ; LIÇÃO DO MENINO CHINÊS (LCG/LBG), Herberto Helder, Mão, in Photomaton &Vox. Alegria da Criação, José Afonso; Uns vão bem e outros mal, Fausto; Coro da Primavera, José Afonso; Enquanto há força!, José Afonso

Digressão ao Teatro Municipal Joaquim Benite (Almada)

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