Colónia Penal
- Temporada: 5 a 22 Julho de 2018
- Local: Teatro do Bairro
Sinopse
Colónia Penal ( Le Bagne ) é uma peça inacabada de Jean Genet, que chegou também a ser um guião de cinema, e que foi por ele escrita e reelaborada ao longo 15 anos, entre 1942 e 1964. É um "verdadeiro santuário do seu Imaginário", no dizer de Michel Corvin, que fez a edição da peça para a coleção Folio-théâtre, e por nós traduzida nessa versão.
Trata-se de uma sucessão de cenas - de quadros, mais propriamente dito - com um ténue fio narrativo, ligadas pela presença de um punhado de personagens, utilizando diversas formas de expressão literária, desde o poema em prosa ao guião cinematográfico, passando, e baseando-se, nele evidentemente, pelo discurso dramático. É, sem dúvida o texto onde o Autor mais se aproxima de um texto dramático de expressão "globalizante" que ele procurou nos últimos anos da sua vida. Numa carta a Bernard Frechman, considerava-a a sua melhor peça, dizendo que se tivesse chegado a publicá-la, " ficaria "dez anos sem escrever".
Com efeito, está nela contida uma súmula da temática e do estilo genetianos: a prisão e o degredo como paraíso sonhado e perdido; a idealização de uma vida essencializada pela proximidade da morte; a exaltação do crime como meio dela se aproximar; a guilhotina como objeto santificador; o herói concebido como um banido, que espera esse gesto de sublimação e de libertação. Neste caso, a colónia penal, o degredo, é um espaço idealizado, onde a morte ou a aproximação dela, se torna como tema sempre presente e liga todas as personagens. O próprio Autor assume essa idealização quando diz: "... repito que este discurso pretende ser um poema [...]. A sua finalidade não é apresentar o mundo exterior, a descrição de uma colónia real, existindo verdadeiramente num lugar geográfico preciso e habitado por forçados que ainda vivem, ou de personagens copiadas, decalcadas sobre criminosos reais. A imaginação do autor cria, pois, a partir da sua única sensibilidade, um universo arbitrário [...] um universo arbitrário, mas não incoerente ." Nesse espaço idealizado e fechado, autónomo, longe do mundo, perdido num deserto, onde vive uma sociedade de excluídos, movimentam-se os degredados, os guardas e os administradores da prisão, todos lúcidos e alienados pelos seus sonhos, destacando-se, como elemento aglutinador, os forçados Rocky, Ferrand e Forlano. Há em todas esses condenados uma exaltação do abjeto, contrastando com os guardas negros que, não condenados à morte, parecem ter uma visão mais luminosa da realidade.
O discurso, com uma notável densidade poética, marcadamente erotizada, contribuindo ainda mais para essa idealização das personagens, fornecendo-lhes uma aura de excecionalidade, aproxima-se da audácia provocadora dos seus romances, pela brutalidade da linguagem, surpreendendo o leitor / espectador pelas associações verbais inverosímeis, desconstruindo sistematicamente as categorias morais do universo burguês, fruto de uma subjetividade exacerbada, barroca, implicando todo o tempo um minucioso trabalho de descodificação.
Luís Lima Barreto
Ficha Técnica
Texto de JEAN GENET, Encenação: ANTÓNIO PIRES, Tradução: FÁTIMA FERREIRA e LUÍS LIMA BARRETO, Interpretação: LUÍS LIMA BARRETO, JOÃO BARBOSA, HUGO MESTRE AMARO, RAFAEL FONSECA, GIO LOURENÇO, IGOR REGALLA, DAVID SPÍNOLA, JOÃO MARIA, FRANCISCO VISTAS, CHRISTIAN MARTINS. Cenografia: ALEXANDRE OLIVEIRA, Figurinos: LUÍS MESQUITA, Caracterização: IVAN COLETTI, Luz: RUI SEABRA, Assistente de iluminação: CLÁUDIO MARTO, Música: PAULO ABELHO, Assistente de som: GUILHERME ALVES, Construção de cenário: FÁBIO PAULO, Pinturas: CARINE DEMOUSTIER, Ilustração : JOANA VILLAVERDE, Filmes : JOÃO BOTELHO, Imagem : RODRIGO ALBUQUERQUE, Som: PAULO ABELHO, Edição : EDGAR ALBERTO, Vítimas : MÁRCIA BREIA, FRANCISCO TAVARES, JAIME BAETA, CAROLINA CAMPANELA, GUILHERME ALVES, Direcção de Produção : IVAN COLETTI, Administradora de Produção : ANA BORDALO, Comunicação: MARIA JOÃO MOURA, Produtor: ALEXANDRE OLIVEIRA, Produção: AR DE FILMES / TEATRO DO BAIRRO . Dur.Aprox. : 100 m . M/16